quarta-feira, 1 de maio de 2019

O TRABALHO

(Do jornal Espírita Italiano Lá Voce Di Dio. Traduzido do Italiano)

A medida do trabalho imposto a cada Espírito encarnado ou desencarnado é a certeza de ter realizado escrupulosamente a missão que lhe foi confiada. Ora, cada um tem uma missão a cumprir: este numa grande escala, aquele em escala menor. Contudo, relativamente, as obrigações são todas iguais, e Deus vos pedirá contas do óbolo posto entre vossas mãos. Se ganhastes juros, se dobrastes a soma, certamente cumpristes o vosso dever, porque obedecestes à ordem suprema. Se em vez de ter aumentado esse óbolo o tivésseis perdido, é certo que teríeis abusado da confiança que o vosso Criador tinha posto em vós; assim, sereis tratado como um ladrão, porque tomastes e não restituístes. Longe de aumentar, dissipastes. Ora, se, como acabo de dizer, cada criatura é obrigada a receber e dar, quanto mais, espíritas, tendes de obedecer a essa divina lei; quanto esforço deveis fazer para cumprir esse dever perante o Senhor que vos escolheu para partilhar seus trabalhos, que vos convidou à sua mesa. Pensai, meus irmãos, que o dom que vos é feito é um dos supremos dons de Deus. Não vos envaideçais por isso, mas fazei todos os esforços para merecer esse alto favor. Se os títulos que poderíeis receber de um grande da Terra; se os seus favores são algo de belo aos vossos olhos, quanto mais vos deveríeis sentir felizes com os dons do senhor dos mundos, dons incorruptíveis e imperecíveis que vos elevam acima de vossos irmãos e serão para vós a fonte de alegrias puras e santas!

Mas quereis ser os seus únicos possuidores? Como egoístas, quereríeis guardar só para vós tanta felicidade e alegria? Oh! Não. Fostes escolhidos como depositários. As riquezas que brilham aos vossos olhos não são para vós, mas pertencem a todos os vossos irmãos. Deveis, pois, aumentá-las e distribuí-las. Como o bom jardineiro que conserva e multiplica suas flores e vos apresenta no rigor do inverno as delícias da primavera; como no triste mês de novembro nascem rosas e lírios, assim estais encarregados de semear e cultivar em vosso campo moral flores de todas as estações, flores que desafiarão o sopro do aquilão e o vento sufocante do deserto; flores que uma vez abertas em suas hastes, não passarão nem fanarão jamais, mas, brilhantes e vivazes, serão o emblema da verdura e das cores eternas. O coração humano é um solo fértil em afeição e doces sentimentos, um campo cheio de sublimes aspirações quando cultivado pelas mãos da caridade e da religião.

Oh! Não reserveis apenas para vós essas hastes sobre as quais surgem sempre tão doces frutos! Oferecei-os aos vossos irmãos, convidai-os a vir saborear, sentir o perfume de vossas flores, a aprender a cultivar os vossos campos. Nós vos assistiremos; nós encontraremos regatos frescos que correndo suavemente darão força às plantas exóticas que são os germes da terra celeste. Vinde! Trabalharemos convosco, partilharemos vossa fadiga, a fim de que vós também possais amontoar esses bens e deles fazer participar outros irmãos necessitados. Deus nos dá, e nós, reconhecidos por seus dons, os multiplicamos o mais possível. Deus nos manda melhorar os outros e a nós próprios; cumpriremos nossas obrigações e santificaremos sua sublime vontade.

Espíritas, é a vós que me dirijo. Preparamos o vosso campo; agora agi de maneira que todos os que necessitarem, dele possam gozar largamente. Lembrai-vos que todos os ódios, todos os rancores, todas as inimizades devem desaparecer diante de vossos deveres. Instruir os ignorantes, assistir os fracos, ter compaixão dos aflitos, defender os inocentes, lamentar os que estão no erro, perdoar aos inimigos. Todas estas virtudes devem crescer em abundância no vosso campo, e deveis implantá-las no dos vossos irmãos. Recolhereis uma ampla colheita e sereis abençoados por vosso Pai que está nos céus!

Meus caros filhos, quis dizer-vos todas essas coisas a fim de vos encorajar a suportar com paciência todos aqueles que, inimigos da nova doutrina, buscam vos denegrir e vos afligir. Deus está convosco, não o duvideis. A palavra de nosso Pai celeste desceu sobre o vosso globo, como no dia da criação. Ele vos envia uma nova luz, luz cheia de esplendor e de verdade.

Aproximai-vos, ligai-vos estreitamente a ele e segui corajosamente o caminho que se abre à vossa frente.

SANTO AGOSTINHO
Revista Espírita, junho de 1866 

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